quarta-feira, 29 de junho de 2011

O que é oração? (Parte 2 de 2)
A oração de Cristo, completamente sincera em seu objetivo, traz os seguintes aspectos:

Reconhecimento da Soberania Divina. “Pai nosso que estais nos céus”. Deus é o criador de todo o universo. Ele governa todas as leis da física. Na verdade, ele próprio as criou. Nada acontece sem o consentimento do Senhor. Ele tem o comando sobre tudo e todas as coisas o obedecem. O Pai Celestial, porém, não é um ditador. Sua autoridade é legítima em nossas vidas. O homem concede legitimidade para que Deus opere maravilhas em sua vida no instante em que o aceita e recebe o Seu Nome. Você deve estar perguntando como pode receber o nome do Senhor. Recebemos a graça de carregar o nome de Deus através do batismo nas águas, passando a fazer parte de uma grande família. “Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” (ênfase do autor) (Mateus 28.19).

Esse primeiro aspecto se revela o mais importante. Por esse motivo, nossa oração deve tomar como base o princípio de que Deus é soberano em nossas vidas. Esse não é um princípio explícito. Na verdade, está bem implícito quando conversamos com o Pai. Não precisamos lembrar a cada momento que ele está nos céus, porque, de fato, ele está. Esse princípio deve estar em nós quando admitimos que o Senhor está acima de nós, observando-nos a cada momento. Não somente no sentido material ou físico, Deus está no controle de tudo. Literalmente.

Seria possível um vigilante ter uma visão completa da fortaleza se não estiver ao alto de uma torre? Se o vigilante estiver em terra, obtendo o mesmo panorama dos demais, de nada adiantaria seu posto. Assim, Deus coordena tudo porque somente ele tem uma visão privilegiada de tudo que acontece. “Estais nos céus” quer dizer que nosso Pai está sempre atento. Mesmo que às vezes a situação nos parece conflituosa, pois estamos vendo apenas sob o nosso prisma humano e falho, Deus tem a melhor solução. A resolução está ao alcance de seus olhos e de suas mãos. Creia nisso.

Reconhecimento da Santidade Divina. “Santificado seja o teu nome”. Peço permissão a você para contar algo curioso que presenciei muitas vezes. É incrível como alguns nomes ganham força devido à fama de seus detentores. Em minha adolescência, sempre que meu irmão e eu íamos à locadora de vídeos com meu pai para conferir os lançamentos, classificávamos os filmes pelos atores que faziam parte do elenco. É uma prática muito comum quando nunca se ouviu nada a respeito do roteiro. Muitas pessoas fazem isso. Meu pai é uma delas.

Transcorridos alguns minutos em que estávamos na locadora, meu pai trazia consigo alguns filmes para nossa avaliação técnica nem um pouco confiável. “Olha este, o ator é muito bom. O filme deve ser bom. Este ator só faz filmes bons”. Meu pai dizia isso para nos convencer. E na grande maioria das vezes, ele acertava. Com exceção de alguns bons atores que não fazem bons filmes, os grandes atores gravam grandes filmes, ou até tornam um filme com um roteiro ruim um sucesso de bilheteria.

Compartilhei essa experiência para lhe mostrar a importância de um nome. Poderia ter citado outros exemplos, mas esse me pareceu mais simples e eficaz.

O nome carrega os atributos de uma pessoa. É a forma de individualizá-la. Um nome “sujo” não é nada agradável. Um nome “respeitável” exige certos cuidados e muito esforço. Em uma sociedade em que as pessoas são reduzidas a números (contas de banco, cartão de crédito, número do seguro de vida ou do carro, entre outros), destacar-se é algo dispendioso.

Quando reconhecemos a Santidade Divina, fazemos justamente isso. Damos o devido destaque a Deus. Quando o nome do Senhor é louvado, damos crédito para quem realmente merece. Santificar o nome de Deus também significa honrar o seu Nome.

Reconhecimento do Reino de Deus em nossas vidas. “Venha a nós o teu reino”. Alguns estudiosos interpretam essa passagem do ponto de vista escatológico. Sob esse enfoque, ela representa o reconhecimento da implantação do Reino de Deus no futuro, no arrebatamento.

Gosto de considerar esse trecho da oração de Cristo sob outro aspecto.

Quando permitimos que Deus reine em nossas vidas, abrimos mãos de nossas falsas certezas e passamos a direção de nossas vidas para o Criador do universo. O Senhor passa a nos conduzir em graça, fazendo-nos experimentar as maravilhas que ele tem preparado para nós.

Passamos a ter mais intimidade com o Pai, pois outorgamos a ele o controle da situação. Isso pode parecer fácil, mas é um dos requisitos mais difíceis da oração verdadeira. Não é fácil entender o Reino de Deus em nossas vidas, quando passamos por grandes dificuldades.

Não é pelo fato de Deus estar conosco que nada de mal irá nos acontecer. Porém, temos como aliado o Todo Poderoso e sua misericórdia sempre nos acompanhará.

Submissão à Vontade Divina. “Seja feita a tua vontade, assim na terra como nos céus”. Aceitar e entender que a vontade de Deus é sempre a melhor é a mensagem que Jesus nos transmite aqui. Ser submisso à voz do Senhor significa abrir mão de algumas coisas, vale dizer, é colocar os próprios desejos em segundo plano e estar disposto a aceitar o caminho que o Pai revela.

Estar debaixo da graça de Deus é o resultado imediato de estar submisso a ele. Quando nos submetemos a ouvir e atender seu comando, declaramos que ele é o Senhor de nossas vidas.
Reconhecimento de que Deus supre as necessidades humanas. “O pão nosso de cada dia nos daí hoje”. Deus usa nossas próprias necessidades para nos ensinar sobre sua providência.

Imagine cerca de mais de três milhões de pessoas no deserto. Esse era o povo de Israel. Quantos quilos de alimento seriam necessários para suprir a fome de todos? Deus agiu de forma miraculosa! (Êxodo 16.4-8).

Os israelitas deram o nome de maná àquele alimento. O maná caía do céu, indicando que é das mãos de Deus que vêm toda nossa provisão. “O homem não pode receber coisa alguma, se não lhe for dada do céu” (João 3.27). É dos céus que somos abençoados, tanto espiritual quanto materialmente.

O maná caía todas as manhãs. Era sempre uma comida fresca, indicando que o amor do Pai não tem fim e suas providências se renovam a cada novo dia. O maná era o alimento exato dado pelo próprio Deus, suficiente para suprir as necessidades do povo todos os dias, sendo concedido até chegaram à terra prometida. Deus é o nosso sustentador! “Não andeis, pois, inquietos, dizendo: que comeremos, ou que beberemos, ou com que nos vestiremos? (Porque todas estas coisas os gentios procuram). De certo vosso Pai celestial bem sabe que necessitais de todas estas coisas; mas, buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” (Mateus 6.31-33).

Esse maná que alimentou o povo de Israel no deserto simboliza Jesus, como Pão do Céu. A respeito disso, podemos tecer algumas considerações relevantes:

O maná fornecido por Deus. O Senhor conhece nossas necessidades e trabalha em prol de supri-las da melhor maneira possível, pois ele ouve nossas orações. Nossa vida espiritual não pode ser alimentada pelo deserto. O deserto significa lugar de provação, não lugar de castigo. O fortalecimento dado por Deus, mesmo quando estamos no deserto, é suficiente, diário e disponível. O pão vindo do céu é a provisão dada pelo Pai mesmo em tempos difíceis. Quanto mais nos alimentamos das providências divinas, mais satisfação achamos no Senhor.

O maná colhido. O povo israelita precisava seguir certas condições para o bom aproveitamento do maná. Ele deveria ser colhido bem cedo todas as manhãs, revelando que o alimento espiritual deve sempre ser a nossa primeira preocupação. Cada pessoa deveria colher seu próprio alimento, não devendo estocá-lo ou reservá-lo a outro. O fato de ter que ser colhido diariamente revela que o maná era um alimento fresco, não podendo ser guardado de um dia para o outro. “Eles, pois, o colhiam cada manhã, cada um conforme ao que podia comer; porque, aquecendo o sol, derretia-se” (Êxodo 16.21).

Mesmo o maná sendo fornecido por Deus ao seu povo no deserto, esse alimento não pertencia ao ambiente. O maná não pertencia ao deserto. Era uma providência divina e não terrestre, representando a figura de Cristo na sua humilhação quando esteve neste mundo. Cristo é a providência (alimento) dado por Deus.

Disposição para perdoar e receber o devido perdão. “Perdoais as nossas dívidas, assim como perdoamos nossos devedores”. Note que encontramos algo bastante complexo de ser cumprido pelo homem: uma condição.

Em Mateus 18.23-35, Jesus contou aos seus seguidores uma interessante história: “Por isso o reino dos céus pode comparar-se a um certo rei que quis fazer contas com os seus servos; e, começando a fazer contas, foi-lhe apresentado um que lhe devia dez mil talentos; e, não tendo ele com que pagar, o seu senhor mandou que ele, e sua mulher e seus filhos fossem vendidos, com tudo quanto tinha, para que a dívida se lhe pagasse. Então aquele servo, prostrando-se, o reverenciava, dizendo: Senhor, sê generoso para comigo, e tudo te pagarei. Então o senhor daquele servo, movido de íntima compaixão, soltou-o e perdoou-lhe a dívida. Saindo, porém, aquele servo, encontrou um dos seus conservos, que lhe devia cem dinheiros, e, lançando mão dele, sufocava-o, dizendo: Paga-me o que me deves. Então o seu companheiro, prostrando-se a seus pés, rogava-lhe, dizendo: Sê generoso para comigo, e tudo te pagarei. Ele, porém, não quis, antes foi encerrá-lo na prisão, até que pagasse a dívida. Vendo, pois, os seus conservos o que acontecia, contristaram-se muito, e foram declarar ao seu senhor tudo o que se passara. Então o seu senhor, chamando-o à sua presença, disse-lhe: Servo malvado, perdoei-te toda aquela dívida, porque me suplicaste. Não devias tu, igualmente, ter compaixão do teu companheiro, como eu também tive misericórdia de ti? E, indignado, o seu senhor o entregou aos atormentadores, até que pagasse tudo o que devia. Assim vos fará, também, meu Pai celestial, se do coração não perdoardes, cada um a seu irmão, as suas ofensas”.

Você consegue perceber que seremos perdoados na mesma proporção com que perdoamos também? O perdão é uma prática que revela desapego às coisas materiais, pois é algo divino. “Quem é Deus semelhante a ti, que perdoa a iniqüidade, e que passa por cima da rebelião do restante da sua herança? Ele não retém a sua ira para sempre, porque tem prazer na sua benignidade" (Miquéias 7.18). Algumas outras referências: Neemias 9.17 e 13.22; Salmo 79.9 e 99.9; Isaías 55.7; Marcos 2.7; Atos 8.22; Efésios 4.23.

Proteção contra a tentação e as ações malignas. “E não nos deixes cair em tentação, mas livrai-nos do mal”. A partir do momento em que estamos em comunhão íntima com Deus, o inimigo tenta de todas as formas nos atingir. É a contraprestação pela unção divina em nossas vidas. A graça do Pai, no entanto, é suficientemente capaz para nos proteger e nos livrar dos atentados malignos.

Adorar a Deus em sua Glória. “Pois teu é o reino, o poder e a glória para sempre. Amém”. Nada melhor do que encerrar um pedido do que reconhecendo algo que se afirmou no início, mostrando perfeita harmonia entre todos os pontos analisados.

Adorar o Pai em sua Glória é adorá-lo em plenitude, reconhecendo suas características divinas e sua provisão. Como seria possível adorar ao Senhor sem reconhecer seu atributo divino? Esse último aspecto estudado nos remete a uma reflexão sobre o sobrenatural de Deus.

Reconhecer a glória de Deus é, principalmente, acreditar nele, ter fé no Senhor. Nossas orações não serão atendidas se não possuirmos uma fé genuína. “Cheguemo-nos com verdadeiro coração, em inteira certeza de fé, tendo os corações purificados da má consciência, e o corpo lavado com água limpa, retenhamos firmes a confissão da nossa esperança; porque fiel é o que prometeu” (Hebreus 10.22,23).


Renato Collyer


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